terça-feira, 20 de maio de 2008

Sistema Endócrino


Após adquirirmos um pequeno conhecimento sobre a história dos EAA, e observarmos que seu uso não é recente, iremos abordar a parte fisiológica relacionada aos EAA. Definindo os tipos de Esteróides, mecanismos de ação, etc.
Antes de falar sobre a endocrinologia, acredito ser relevante citar um trecho de Pancorbo Sandoval (2005) que é de extrema relevância no âmbito da história (postagem anterior).
Em seu livro, "Medicina do Esporte", ele cita que a palavra "doping" não é proveniente do idioma inglês, é derivada do termo "dop", procedente do dialeto kaffir na África do Sul, para denominar um licor forte consumido pelos membros das tribos dessa região como forma de estimulante durante suas cerimônias religiosas. Esse termo foi adaptado na linguagem bôer - ou seja, dos descendentes de colonos, principalmente, dos Países Baixos, Alemanha e França que se estabeleceram na África do Sul nos séculos XVII e XVIII - e, posteriormente, seu uso foi ampliado para outras bebidas e estimulantes. Vários outros termos são reconhecidos para identificar a palavra, porém todos têm o mesmo sentido.
Pancorbo Sandoval (2005) também descreve a história do "doping", desde os anos 300 a.C., onde há uma pintura de um imperador da época mastigando uma rama de "ephedra" , planta que contém efedrina - anfetamina do grupo das substâncias aminas simpaticomiméticas na relação do COI. Estimula o coração e a circulação, alivia a asma e a congestão nasal e diminui a sensibilidade à dor.
Estudos recentes mostram que a efedrina durante a dieta ajuda na preservação dos músculos enquanto reduz a gordura, sendo que a cafeína e a aspirina a tornam mais efetiva (SANTOS, 2007).


Outro importante marco histórico sobre o "doping" ocorreu em 1910, quando o químico russo Bukovski realizou a primeira análise científica para demonstrar a presença de substâncias alcalóides na saliva do cavalo (PANCORBO SANDOVAL, 2005).
Logo em seguida, como dito na postagem anterior, em 1935 a testosterona foi sintetizada. Nesse ano, a testosterona foi isolada na forma cristalina por três grupos: o grupo de Butenandt e Hanish apoiados pela Schering Corporation, em Berlim; o grupo de De Lepold Ruzicka e A. Wettstein em nome de Ciba, e depois o grupo de David do Grupo Laqueur e sua equipe, em Amsterdã, que reportou o isolamento de um composto cristalino a partir de testículos de touro (10 mg de 100 kg) (STRAUSS e YESALIS, 1991; BAHRKE e YESALIS, 2002; STONE, 1993).




No início da década de 1950, de acordo com Santos (2007) os cientistas descobriram que a testosterona tinha duas qualidades distintas: a anabólica e a androgênica. A qualidade anabólica está associada à qualidade de construir tecido muscular, enquanto a qualidade androgênica associada ao efeito da feminilização nos homens (ginecomastia) e outros efeitos colaterais indesejados, e masculinizantes nas mulheres, como voz profunda (engrossamento da voz), pele grossa, pêlo facial e corporal, etc.
De acordo com Stone et al. (1993), uma das principais ações fisiológicas dos androgênios é a estimulação da proteína anabólica ou da fase construtiva do metabolismo no corpo. Muitos estudos e revisões foram publicadas nas últimas décadas sobre o efeito dos esteróides androgênicos na massa e composição corporal, força, capacidade aeróbia e rendimento em seres humanos. Muitas dessas investigações foram conduzidas utilizando estudantes universitários que tiveram a mínima experiência com treinamento com pesos (CASNER et al. 1971; FAHEY e BROWN, 1973).



As principais conclusões desses estudos em relação às respostas do nosso corpo e comportamento ao aumento da concentração de androgênio durante a puberdade foram:
(a) completo desenvolvimento das características sexuais primárias, como crescimento do pênis, aumento da freqüência de ereções e aumento do interesse sexual;
(b) mudanças na pele e seus derivados, incluindo crescimento de pêlos na região genital, e aumento do tamanho e espessura do coração e engrossamento da voz;
(c) aceleração do crescimento dos ossos e do desenvolvimento da massa muscular;
(d) o período da puberdade também é associado à mudanças no aspecto psicológico, particularmente em relação à imagem corporal e identidade própria (STONE et al., 1993).
Porém, esses fatores acima são devidos também aos fatores anabólicos dos hormônios esteróides, pois, como cita Stone et al. (1993), ainda não existe um esteróide anabólico puro, que não possua efeitos androgênicos.
A natureza do corpo humano é tal que ele não pode sobreviver sem algum método de comunicações internas. Os humanos desenvolveram dois desses sistemas de comunicação interna: o sistema nervoso, que responde rapidamente usando vias neurais específicas para receber e enviar informação por todo o corpo; e o sistema endócrino, um grupo de glândulas livremente associadas, que regulam os processos fisiológicos em uma velocidade muito mais lenta do que o sistema nervoso (McMURRAY e HACKNEY, 2003).
Os hormônios são substâncias químicas sinalizadoras. São formados por células especializadas que, muitas vezes, são agrupadas formando as "glândulas endócrinas" (KOOLMAN e RÖHM, 2005).




Por meio da integração dos sistemas de comunicação, o corpo "mantém a homeostase" - termo muito discutido pelos cientistas pois, o nosso corpo m alguns sentidos podemos dizer que somos homeostáticos (temperatura corporal, que mesmo assim há variações entre repouso e em atividade), porém prefiro citar que nosso corpo sempre procura se "manter" o mais próximo possível da "homeostase", realizando ondas, de altos e baixos, sobre o dito "ponto ideal", usando o termo "homeodinâmica" - bem como responde e "adapta-se"* ao estresse (McMURRAY e HACKNEY, 2003).
* Também prefiro outro termo, pois, de acordo com estudos biológicos, a adaptação está associada à seleção natural e explica como a vida se modificou ao longo do tempo, sendo tais modificações resultantes de mutações gênicas irreversíveis ocorridas no DNA do organismo e transmitidas de uma geração a outra após passarem pelo crivo da seleção natural. Charles Darwin (seus inúmeros estudos podem ser acessados gratuitamente no site: http://www.darwin-online.org.uk/), explica que, para haver adaptação são necessárias gerações e gerações, sendo fundamental que as forças de seleção natural proporcionem uma variação dos genes no mesmo. Assim, é recomendável a área do treinamento físico a escolha de outro termo para nomear as alterações "momentâneas" (agudas ou crônicas) que nosso organismo sofre em resposta ao treinamento.
Calabrese (2002) cita como "efeito hormético" ou "hormese", ou seja, uma resposta supercompensatória ao desequilíbrio da homeodinâmica, provocado por determinado estímulo estressante (não necessariamente sendo essa supercompensação resultado do treinamento físico, mas um efeito genérico inerente à vida sob estresse moderado). A hormese é o resultado de uma modificação crônica, porém não necessariamente uma adaptação da espécie, pois os filhos de atletas ainda não possuirão as mesmas modificações de seu pai sem o mesmo estímulo. Os conceitos de adaptação, de acordo com Moran (1994) tem que ser diferenciados dos conceitos de "ajustamento" - pode ser visto como sinônimo de hormese - onde o primeiro deve ser empregado quando as mudanças estruturais-funcionais ocorrerem irreversivelmente com possibilidade de transmissão para outras gerações devido ao seu valor adaptativo para a espécie.
Já as alterações de ajustamento, podem ser devido à quatro fatores: regulador, aclimação, aclimatação e desenvolvimento, os quais serão comentados em artigos futuros.


Adaptação



Hormese

Continuando, os hormônios transferem sinais hormonais por migrarem do local de sua formação para o local de sua ação. Se o transporte ocorrer pelo sangue (mais comum), refere-se a um efeito endócrino. Mas se o transporte ocorrer através das glândulas sudoríparas e pelo trato digestivo, o efeito será exócrino. Os hormônios teciduais, cuja células-alvo encontram-se vizinhas às células glandulares têm um efeito parácrino (célula próxima). Se a substância sinalizadora agir sobre a própria célula que a produziu, trata-se de um princípio de efeito autócrino (célula produz e é afetada pelo hormônio). Encontra-se esse efeito freqüentemente em células tumorais que, dessa forma, estimulam a sua própria proliferação.
O sistema endócrino consiste de um grupo de nove glândulas e alguns tecidos específicos livremente associados encontrados por todo o corpo. Essas glândulas secretam hormônios para o sangue, caminho o qual eles serão transportados para o "órgão alvo" (Koolman e Röhm, 2005). A liberação de hormônio é comumente controlada pelo mecanismo de "feedback", ou seja, as glândulas percebem a necessidade do hormônio (usualmente a partir do sangue), e então, o hormônio é liberado, move-se até o tecido-alvo e corrige o distúrbio. Uma vez corrigido, os sinais são enviados de volta à glândula, geralmente pelo sangue, para reduzir a liberação do hormônio. Entretanto, alguns mecanismos de "feedback" não tão simples assim e envolvem múltiplos órgãos e glândulas. Independentemente do mecanismo de "feedback", o propósito da resposta endócrina ainda permanece o mesmo: manter a existência do organismo humano (McMURRAY e HACKNEY, 2003).
O "feedback negativo" ou "efeito rebote" trata-se de uma resposta em mesma ou maior proporção em relação há uma ação hormonal. Por exemplo, quando você ri demais, há, logo em seguida uma sensação de depressão (PEREIRA, 2007).
Existem duas classificações químicas de hormônios: os baseados em aminoácidos, e os baseados em esteróides, ou seja, do ponto de vista químico, a maioria dos hormônios são derivados de aminoácidos, peptídeos e proteínas ou esteróides.

McMurray e Hacney (2003) afirmam que os hormônios esteróides são sintetizados a partir do colesterol nas gônadas e no córtex adrenal, sendo lipossolúveis e, por isso, podem difundir-se diretamente para dentro da célula. Dentro dela, eles combinam-se com um receptor (receptor intracelular), que, por sua vez, desloca-se para uma proteína associada ao DNA, iniciando a atividade do gene.

Os hormônios esteróides mais importantes, de acordo com Koolman e Röhm (2005) e Stone et al. (1993), são:

PROGESTERONA (hormônio sexual feminino que prepara o útero para uma possível gestação, além de ser responsável pelo desenvolvimento das glândulas mamárias);

ESTRADIOL (representante mais importante dos estrogênios. Controla o ciclo menstrual, é responsável pelo aparecimento dos caracteres sexuais secundários como mamas e distribuição de gorduras);
TESTOSTERONA (é o esteróide sexual masculino (androgênio) mais importante. Produzido nos testículos (células de Leydig). Responsável pelo funcionamento e desenvolvimento das gônadas masculinas. Também determina os caracteres sexuais secundários masculinos - MÚSCULOS, pêlos, etc.);

CORTISOL (formado pela supra-renais, age de forma regulatória sobre o metabolismo das proteínas e dos carboidratos, promovendo a degradação de proteínas e a transformação de aminoácidos em glicose, elevando o nível de glicose no sangue - os glicocorticóides sintéticos são utilizados como medicamentos devido ao seu efeito antiinflamatório e imunossupressivo);




Já os hormônios baseados em aminoácidos (a maioria) variam em tamanho - de complexos aminoácidos simples a grandes moléculas - e entram na célula por meio de exocitose para efetuar uma resposta, mas a maior parte tipicamente não entra diretamente dentro da célula. Eles comumente combinam-se com um sítio receptor na membrana celular, o qual ativa outro componente no citoplasma, um "segundo mensageiro" para efetuar a resposta dentro da célula.

Espero ter fornecido uma leitura mais agradável sobre um tema muito teórico e com muitos termos relacionados à química e à bioquímica de difícil compreensão, até para estudiosos da área. Este artigo foi apenas uma introdução ao componente metabólico do sistema endócrino. Futuramente serão citados novamente esses hormônios e seus modos de utilização, ganhos e seus efeitos colaterais (maléficos e benéficos ao rendimento e à saúde).

Obrigado!

Rodrigo Dall'Aqua