quarta-feira, 16 de julho de 2008

MUDANÇAS EM NOSSAS VIDAS


Hoje não escreverei sobre esportes. Por alguma razão que desconheço, fui possuído de uma enorme vontade de escrever sobre algo que todos presenciam (ou presenciaram): a rotina. Todos nós nos sentimos, em certos momentos de nossas vidas, acomodados, ou pior, conformados com a situação (qualquer que seja: boa, média, ou ruim) em que nos encontramos. Para modificá-la, há a necessidade de enfrentarmos o medo do desconhecido. Assim, muito se fala do medo do desconhecido, mas pouco se fala do tédio do conhecido, do que é seguro. Do que se repete, da vida vivida "como se deve", e não da vida vivida "como se deseja".


Existe um princípio (o princípio da Não-contradição Existencial) que cita que a alma da aventura é o inesperado, a ameaça, o imprevisto. O oposto disso, a segurança, o previsto, o esperado, não faz com que nos sintamos vivos.


O problema todo é que nós lutamos contra aquilo que mais desejamos. No lugar da contínua transformação que somos nós, preferimos os noticiários e as propagandas intermináveis: o mundo está se transformando: mudam as modas, os remédios para celulite, são inventados a cada dia, melhores xampus (que evitam até queda de cabelo!), aparelhos de musculação que lhe proporcionam músculos ultra-definidos e, acreditem, mesmo trabalhando a região abdominal, você emagrece, ganha massa muscular e fica "saradão" com apenas 3 minutos por dia! - ou seja, a cada dia que se passa, preferimos ouvir e ver tantas "barbaridades", como simples expectadores de um jogo de futebol, a transformar (modificar) essa nossa realidade.


Freud cita que o desejo de segurança é um instinto de morte. Medo de correr riscos - eternamente inevitáveis - pois não há dois momentos iguais no Universo. Desse medo surgem os "abençoados" com o dom da premonição. Há aqueles com tanta insegurança do futuro, que se prevêem com extrema precaução bem antes de o mesmo chegar. Porém, o grande problema é que, enquanto essa pessoa estiver viva, sempre haverá futuro para ela. Assim, ela nunca estará vivendo o presente, e sim, vivendo para o futuro.



São deveras profundas as raízes do tanto que se faz e pensa a fim de prever e "garantir" o futuro, quando toda a evidência nos prova que essa previsão é impossível.


Hoje os biólogos começam a falar de optoptose - suicídio espontâneo da célula ou do ser vivo, programado no DNA e ativado quando a célula ou o ser vivo não possui mais ou nunca possuiu função. Isso é causado por fatores psiconeuroimunológicos. Psicológicos, quando a vida é um contínuo tédio sem sentido, uma repetição estúpida ou um desamparo sem medida. Fatores neurológicos porque então os neurônios produzem enxurradas dos neurotransmissores inibidores, enquanto são liberados no sangue os hormônios do estresse (causando depressão, medo crônico de tudo, vontade de morrer). E por fim, imunológicos, porque o sistema defensivo do organismo esgota-se pelo esforço inútil de permanecer vivo.


Essa "optoptose" está cada vez mais se tornando parte de nossa sociedade. Um dos motivos que acarretam essa ascensão está relacionado aos valores da sociedade. Fama e sucesso são, hoje em dia, obrigações para se tornar um "bem-sucedido" empresário, jornalista, médico, professor, treinador...adotando, se necessário (e está se tornando necessário!), a filosofia maquiavélica onde, os fins justificam os meios. Quem não consegue essa fama, sente-se um imprestável. Assim, ainda tenta, de todas as maneiras possíveis, ser semelhante às "imagens" na televisão.


Li esses dias que, na sociedade norte-americana, quase 10% da população sofre de depressão e 25% terá uma crise psiquiátrica em algum momento da vida. Falando de um país que, de acordo com o site da Wikipédia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_dos_Estados_Unidos_da_Am%C3%A9rica), em 16 de janeiro de 2005, o censo estimou a população norte-americana em 295.267.686 habitantes, isso significa que em torno de 29,5 milhões de norte-americanos apresentam problemas depressivos. Ao ler os artigos do Journal of Psychiatry (Levinson et al., 2007; Holmans et al., 2007; Folstein et al., 2007; Storosum et al., 2001; Mayberg, 2002; Manji, 2003; Greenfield et al., 2000; Schatzberg, 2002; Anghelescu et al., 2001), observamos que em torno de 20-40% dessas pessoas que sofreram crises depressivas, sofreram por motivos estritamente genéticos e/ou traumas (perda de familiares, amigos, amores; guerras). Assim, 60-80% dessas pessoas que sofrem de depressão, os fatores condicionantes foram: uso abusivo de drogas (remédios, drogas sintéticas, incluindo EAA), problemas familiares e fatores socioculturais.


Soldado Norte-Americano no Iraque - Transtorno de Stress Pós-Traumático que pode acarretar em depressão profunda.




Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain. Exemplos de que até mesmo fama e dinheiro não são capazes de proporcionar a tão desejada felicidade.

Infelizmente, essas "imagens" são imagens distorcidas, corrompidas pela ignorância, sexo, violência, infidelidade, mentira...já mencionei ignorância? - importantíssimo citar isso, pois nossos ídolos, presentes 24 horas na telinha, geralmente não sabem (ou fingem não saber) a tamanha influência que possuem no desenvolvimento das crianças e adolescentes de nosso país, onde a moda da garotada é usar brinco e andar em "bando" para espancar alguém "diferente" - diferente de sua raça, religião, diferente de sua "turma" apenas.


Todos os pré-supostos são limitações da percepção: "veja somente o que todos dizem que existe!". Por isso os pré-conceitos levam a decisões não propriamente erradas, mas na certa parciais - ou limitadas. Por isso os preconceitos alimentam continuamente a ansiedade. Ao restringir a percepção e tolher a liberdade de movimento, eles nos deixam indefesos.


Cada "não" ouvido e obedecido na infância cria um buraco naquela realidade que não foi experimentada, e um medo de viver as experiências que não foram permitidas pelas "autoridades" sociofamiliares. As crianças de hoje estão sendo criadas através do "não!" - "não corra no corredor", "não grite!", "não ponha a mão na boca"...até em relação à sexualidade, ainda continuam as barreiras. Apenas o que mudou foi a banalização do sexo, a vulgarização do sexo. Mas cá entre nós, dançar um "creo", assistir pornografia na internet, ou andar de mini-saia na rua, não auxiliam muita coisa para o (a) adolescente "se conhecer".


Por fim, o medo do futuro apenas se resolve ampliando a percepção do presente. Ou seja, se a pessoa estiver bem ocupada com e no presente, pouco ou nada se preocupará com o futuro. Pois ela estará, naquele momento, empenhada em uma tarefa interessante. O medo do futuro existe porque no presente se vive sem perceber a si e nem ao seu contexto. Resumindo, só vivem no passado ou só se preocupam com o futuro as pessoas que não têm presente - ou que não estão presentes ao presente.



Dúvidas ou sugestões, comentem o blog ou enviem um e-mail para rdallsantos@hotmail.com.

Obrigado!
Rodrigo Dall'Aqua