sábado, 5 de julho de 2008

Levantadores de peso - Leonid Taranenko


Nesse artigo, iniciarei uma série onde serão citados os principais atletas do levantamento de peso da história. Atletas que superaram limites, quebraram recordes e conquistaram medalhas de ouro, prata e bronze nos Jogos Olímpicos para suas respectivas nações.

Em épocas completamente diferentes da nossa, onde havia (ou não) um pequeno conhecimento sobre planejamento de treino; onde se acreditava que "quanto mais treino, melhor!", jamais cogitando a existência de uma variável do treinamento, chamada hoje, de supertreinamento ou "overtraining", e até mesmo os esteróides anabólicos androgênicos (EAA) eram praticamente desconhecidos (mais do que atualmente). Sobre os aspectos nutricionais então nem se fala. Mas mesmo assim, podemos observar que os atletas praticavam o esporte, seja qual for a modalidade, com o "coração". Eram "cobaias" de seus treinadores apenas pelo prazer de competir, sem se importar com o fato de não possuírem garantias de uma aposentadoria segura, ou até mesmo de uma vida saudável após a carreira esportiva.

Os primeiros atletas que mencionarei foram duas lendas da ex-União Soviética. Competiram em épocas de Guerra Fria, onde tanto a URSS quanto os EUA lutavam muito para dominarem o cenário esportivo. Leonid Taranenko e Vasily Alexeev foram dois monstros! Duas personalidades que, na época, foram comparados aos heróis superpoderosos das histórias em quadrinhos. Não iniciarei falando sobre a maior lenda (Alexeev) pois, creio que Taranenko tenha sido mais (se isso é possível!) impressionante. Taranenko não era tão alto quanto Alexeev. Não era tão pesado quanto. Mas mesmo assim, foi capaz de feitos impressionantes.


Leonid Taranenko



Nascido em 1956, conquistou em sua carreira 5 medalhas olímpicas: 2 de ouro, 2 de prata e 1 de bronze, competindo nas categorias 108+ kg, 110 kg e 110+ kg.

Detentor de 26 quebras de recorde, foi o atleta que levantou a carga mais pesada do século 20. Aconteceu em Camberra, na Austrália em 1988 através de um arremesso de 266 kg, que passou então, durante as décadas seguintes até os dias atuais, a ser um desafio para os demais atletas.



Taranenko realizando o segundo maior arremesso de todos os tempos: 265,5 kg.
Link para ver esse arremesso: http://www.youtube.com/watch?v=gsXY7KxegAc
Link para assistir ao maior arremesso (266 kg): http://www.youtube.com/watch?v=D845ugFQh2U



Formado na escola bielorrussa de levantamento de peso, Taranenko levantou pesos em nível internacional até os seus 40 anos de idade. Durante sua carreira, ele representou as seleções nacionais da URSS, e após o colapso, a Comunidade dos Estados Independentes e, por fim, a Bielorrússia.

Taranenko se tornou candidato para a seleção soviética aos 19 anos, em 1975. Entretanto, sua ascensão ocorreu nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, onde ele conquistou a medalha de ouro na categoria de 110 kg. Quatro anos mais tarde, ele estava preparado para competir em sua segunda Olimpíada, entretanto, devido ao boicote da URSS nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles, ele deixou de conquistar seu merecido título. Como alternativa ao Jogos Olímpicos, os soviéticos participaram do Torneio Amistoso Internacional, onde Taranenko venceu na classe de 110 kg com o recorde mundial total de 442,5 kg (ou 52,5 kg a mais do que Norberto Oberburger - o medalhista de ouro nos Jogos Olímpicos de Los Angeles).

Rapidamente, após esse ano, Taranenko transferiu-se para a categoria Super Pesados (110+ kg). Esse passo foi arriscado pois ele não era tão alto para essa nova categoria de peso. Em adição, o time soviético já possuía uma longa lista de jovens ambiciosos para se tornarem o "homem mais forte do mundo" nessa categoria, título que se generalizou após a aposentadoria de Vasily Alexeev.


Comparação entre Taranenko na categoria 110 kg e Taranenko na categoria acima de 110 kg.



Em 1992, aos 36 anos, Taranenko conquistou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Barcelona representando sua pátria, Bielorrússia. Aos 40 anos de idade, Taranenko conquistou o título de Campeão Europeu e também tentou sua participação nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Apesar da conquista do europeu, sua longa história de lesões o impediram de alcançar esse último desejo em sua carreira de atleta. Após sua aposentadoria, Taraneko seguiu a carreira de treinador, sendo em 2004, antes dos Jogos Olímpicos de Atenas, demitido do comando da seleção nacional da Índia devido ao resultado positivo no doping de duas atletas indianas. Porém, esse episódio singular foi incapaz de manchar uma das mais brilhantes carreiras e histórias no levantamento de peso.


Leonid Taranenko nos dias atuais.


Na próxima biografia, será descrita a história do levantador de pesos conhecido como "Urso Russo", Vasily Alexeev. O gigante russo de 1,86m e 160 kg que quebrou, ao todo, 80 recordes mundiais em sua carreira e, além de ter sido um dos melhores levantadores de peso de todos os tempos (alguns dizem que foi o "Pelé" do levantamento de peso), foi também uma das mais carismáticas figuras da modalidade.


Qualquer dúvida ou sugestão, comentem o blog ou enviem um e-mail para rdallsantos@hotmail.com.


Obrigado!

Rodrigo Dall'Aqua

domingo, 29 de junho de 2008

Levantamento de peso - Força Rápida


Nesse artigo, escreverei sobre a principal capacidade biomotora da força a ser desenvolvida no atleta de levantamento de peso: a Força Rápida. Antes de citarmos a força rápida (força explosiva ou potência), re-lembraremos as modificações dos componentes neurais em relação ao treinamento de força (máxima ou força rápida).

Podemos sintetizar a postagem anterior sobre força máxima citando Sale (2003): "as adaptações* neurais predominam no início do treinamento. Posteriormente, quando alcançam um platô, ocorre a adaptação* muscular" (hipertrofia). *hormese.

Sendo esse conceito de Sale (2003), denominado pelo mesmo de adaptação neural, surge da observação de um aumento da força no início do treinamento com ausência (mensurável) de hipertrofia (aumento da secção transversa do músculo - aumento do tamanho muscular).

Assim, como explicado no artigo anterior, as adaptações de ordem neurais, segundo Häkkinen (2002), envolvem: (a) aumento da velocidade de condução e freqüência dos estímulos nervosos; (b) sincronização de unidades motoras intra e intergrupamentos musculares sinergistas ao movimento. É importante conhecer as alterações neurais relacionadas ao treinamento de força, pois Charniga (2001) cita que as duas capacidades motoras mais exigidas no levantamento de peso são a força máxima e a força rápida (essa sendo a primária, a mais importante).


Força Rápida


De acordo com Bompa (2002); Weineck (2003) e Platonov (2004) força rápida (potência) é a capacidade para realizar um movimento explosivo, no menor tempo possível, resulta da integração de força máxima e velocidade. Para este autor existem dois tipos de potência: acíclica e cíclica. A Potência acíclica é o tipo de potência que não possui um ciclo, ou uma continuação do mesmo, ou seja, há uma quebra de “ritmo” durante a realização do movimento (como por exemplo o arranque e o arrremesso). Já a Potência cíclica é o tipo de potência que já possui um ciclo, o ciclo só é quebrado com o fim do que se deseja realizar.

Ritzdorf (2000) divide a força em grupos de esportes conforme a aplicação da força. O grupo do levantamento de peso é o de esportes com aplicação de força concêntrica de alta intensidade e curta duração. Este se caracteriza por aplicações de força breves e muito potentes, onde os músculos geralmente trabalham de forma puramente concêntrica. Essas atividades geralmente envolvem certa massa (implemento esportivo ou próprio corpo), que deve ser acelerada ao máximo, ou quando a duração do movimento deve tornar-se mínima. O autor ainda diz que a potência não é dimensão independente da força, pelo contrário, é determinada pelo alto nível de força máxima.

Um dos principais métodos de se desenvolver potência (força rápida) é o pliométrico, que, de acordo com Verkhoshansky (2000), é uma forma específica de preparação da força dirigida ao desenvolvimento da força explosiva muscular e da capacidade reativa do sistema neuromuscular.




Exemplo de treino pliométrico para os membros inferiores: (1) queda; (2) impulsão (contato rápido ao solo); (3) salto.

Neste método, o peso da sobrecarga e sua força de inércia não influem tanto no estímulo mecânico externo para a atividade muscular como a energia cinética, acumulada no aparelho ou no corpo do esportista durante a queda de certa altura (0,75 a 1,10 metros). Um estiramento brusco (pliométrico) dos músculos durante a ação de freio do aparelho (ou do corpo) que cai, constitui um fator de estímulo que aumenta a velocidade da posterior contração muscular e diminui a duração da fase de transição do trabalho excêntrico ao concêntrico, ou seja, o músculo irá se contrair com mais força e rapidez a partir da posição de pré-alongamento, sendo que essa fase de encurtamento deve ocorrer imediatamente após a conclusão da fase de pré-alongamento (Bompa, 2004; Verkhoshansky, 2000).

As maiores vantagens do método pliométrico são as seguintes: ele garante um desenvolvimento muito rápido do máximo impulso dinâmico da força e esse valor é superior ao do resto de tipos de trabalho e é alcançado sem utilizar uma sobrecarga suplementar; a transição do trabalho excêntrico ao concêntrico é mais rápido que em outros casos, sendo que o considerável potencial de tensão muscular acumulado na fase de amortecimento e a inexistência de uma sobrecarga suplementar garantem um maior trabalho muscular na fase de impulso e uma maior velocidade de contração muscular, que se manifesta na maior altura do salto depois do impulso (Verkhoshansky, 2000).

Porém, Verkhoshansky (2000) recomenda não utilizar esse método quando o esportista não está completamente restabelecido de lesões nos músculos, nas articulações, nos ligamentos e nos tendões ou quando ele se cansou com a carga anterior. O autor também não aconselha utilizá-lo: na etapa inicial de treinamento atual, quando organismo ainda não está preparado para uma sobrecarga mecânica intensa; na etapa de aperfeiçoamento profundo da técnica do exercício de competição, sobretudo quando ela exige uma modificação de elementos delicados (detalhes) de coordenação; em vésperas de competição e quando o esportista carece de uma técnica racional de execução dos exercícios.



Exemplo de treino pliométrico para os membros superiores com a utilização de uma sobrecarga (medicine ball)


Em relação ao desenvolvimento da potência (força rápida) por meio dos pesos livres, Zenalov (1976) cita que, em relação aos membros inferiores (principais músculos a serem desenvolvidos no levantamento de peso para a obtenção de bons resultados), os exercícios de assistência (como por exemplo o agachamento frontal e o agachamento) são comumente usados objetivando o aumento da força (força máxima e força rápida). Zenalov (1976) explica que os exercícios de agachamento geralmente são realizados com cargas próximas à carga máxima do arremesso ou do arranque (carga inferior ao arremesso), ou seja, mesmo que o atleta consiga agachar com 100 kg a mais, é recomendável que ele realize um maior volume de treino do que uma maior intensidade, devendo assim, diminuir a carga. Isso, explica Deniskin (1981), deve-se ao fato de que, apesar de ser um exercício de extrema importância, esses exercícios contribuem eficazmente apenas para o desenvolvimento da força absoluta, mas possuindo uma pequena eficácia em gerar força explosiva (Vorobeyev, 1977; Medvedyev, 1968; Avenesov, 1970).

Assim, , podemos concluir que, em relação ao levantamento de peso, os exercícios mais recomendados para o desenvolvimento da força rápida são os de competição (arranque e arremesso) e os pliométricos, sendo de extrema importância a correta utilização de ambos em seus devidos períodos de preparação, pois um erro metodológico ou de planejamento poderá ocasionar em uma falha na aquisição da capacidade física mais importante dessa modalidade (e de diversas outras): a força rápida.





O agachamento para atletas de levantamento de peso não necessita ser tão pesado quanto para os levantadores básicos, pois a modalidade exige uma maior força de velocidade (e não força máxima) e, ao mesmo tempo, um agachamento mais profundo (ao contrário do levantamento básico, onde o exercício é realizado até os 90º de flexão).


Ao longo dessa semana, postarei um artigo sobre a última capacidade biomotora da força: a força de resistência, em especial a de resistência hipertrófica.

Dúvidas ou sugestões, postem através de comentários ou enviem um e-mail para: rdallsantos@hotmail.com.

Obrigado!
Rodrigo Dall'Aqua