domingo, 29 de junho de 2008

Levantamento de peso - Força Rápida


Nesse artigo, escreverei sobre a principal capacidade biomotora da força a ser desenvolvida no atleta de levantamento de peso: a Força Rápida. Antes de citarmos a força rápida (força explosiva ou potência), re-lembraremos as modificações dos componentes neurais em relação ao treinamento de força (máxima ou força rápida).

Podemos sintetizar a postagem anterior sobre força máxima citando Sale (2003): "as adaptações* neurais predominam no início do treinamento. Posteriormente, quando alcançam um platô, ocorre a adaptação* muscular" (hipertrofia). *hormese.

Sendo esse conceito de Sale (2003), denominado pelo mesmo de adaptação neural, surge da observação de um aumento da força no início do treinamento com ausência (mensurável) de hipertrofia (aumento da secção transversa do músculo - aumento do tamanho muscular).

Assim, como explicado no artigo anterior, as adaptações de ordem neurais, segundo Häkkinen (2002), envolvem: (a) aumento da velocidade de condução e freqüência dos estímulos nervosos; (b) sincronização de unidades motoras intra e intergrupamentos musculares sinergistas ao movimento. É importante conhecer as alterações neurais relacionadas ao treinamento de força, pois Charniga (2001) cita que as duas capacidades motoras mais exigidas no levantamento de peso são a força máxima e a força rápida (essa sendo a primária, a mais importante).


Força Rápida


De acordo com Bompa (2002); Weineck (2003) e Platonov (2004) força rápida (potência) é a capacidade para realizar um movimento explosivo, no menor tempo possível, resulta da integração de força máxima e velocidade. Para este autor existem dois tipos de potência: acíclica e cíclica. A Potência acíclica é o tipo de potência que não possui um ciclo, ou uma continuação do mesmo, ou seja, há uma quebra de “ritmo” durante a realização do movimento (como por exemplo o arranque e o arrremesso). Já a Potência cíclica é o tipo de potência que já possui um ciclo, o ciclo só é quebrado com o fim do que se deseja realizar.

Ritzdorf (2000) divide a força em grupos de esportes conforme a aplicação da força. O grupo do levantamento de peso é o de esportes com aplicação de força concêntrica de alta intensidade e curta duração. Este se caracteriza por aplicações de força breves e muito potentes, onde os músculos geralmente trabalham de forma puramente concêntrica. Essas atividades geralmente envolvem certa massa (implemento esportivo ou próprio corpo), que deve ser acelerada ao máximo, ou quando a duração do movimento deve tornar-se mínima. O autor ainda diz que a potência não é dimensão independente da força, pelo contrário, é determinada pelo alto nível de força máxima.

Um dos principais métodos de se desenvolver potência (força rápida) é o pliométrico, que, de acordo com Verkhoshansky (2000), é uma forma específica de preparação da força dirigida ao desenvolvimento da força explosiva muscular e da capacidade reativa do sistema neuromuscular.




Exemplo de treino pliométrico para os membros inferiores: (1) queda; (2) impulsão (contato rápido ao solo); (3) salto.

Neste método, o peso da sobrecarga e sua força de inércia não influem tanto no estímulo mecânico externo para a atividade muscular como a energia cinética, acumulada no aparelho ou no corpo do esportista durante a queda de certa altura (0,75 a 1,10 metros). Um estiramento brusco (pliométrico) dos músculos durante a ação de freio do aparelho (ou do corpo) que cai, constitui um fator de estímulo que aumenta a velocidade da posterior contração muscular e diminui a duração da fase de transição do trabalho excêntrico ao concêntrico, ou seja, o músculo irá se contrair com mais força e rapidez a partir da posição de pré-alongamento, sendo que essa fase de encurtamento deve ocorrer imediatamente após a conclusão da fase de pré-alongamento (Bompa, 2004; Verkhoshansky, 2000).

As maiores vantagens do método pliométrico são as seguintes: ele garante um desenvolvimento muito rápido do máximo impulso dinâmico da força e esse valor é superior ao do resto de tipos de trabalho e é alcançado sem utilizar uma sobrecarga suplementar; a transição do trabalho excêntrico ao concêntrico é mais rápido que em outros casos, sendo que o considerável potencial de tensão muscular acumulado na fase de amortecimento e a inexistência de uma sobrecarga suplementar garantem um maior trabalho muscular na fase de impulso e uma maior velocidade de contração muscular, que se manifesta na maior altura do salto depois do impulso (Verkhoshansky, 2000).

Porém, Verkhoshansky (2000) recomenda não utilizar esse método quando o esportista não está completamente restabelecido de lesões nos músculos, nas articulações, nos ligamentos e nos tendões ou quando ele se cansou com a carga anterior. O autor também não aconselha utilizá-lo: na etapa inicial de treinamento atual, quando organismo ainda não está preparado para uma sobrecarga mecânica intensa; na etapa de aperfeiçoamento profundo da técnica do exercício de competição, sobretudo quando ela exige uma modificação de elementos delicados (detalhes) de coordenação; em vésperas de competição e quando o esportista carece de uma técnica racional de execução dos exercícios.



Exemplo de treino pliométrico para os membros superiores com a utilização de uma sobrecarga (medicine ball)


Em relação ao desenvolvimento da potência (força rápida) por meio dos pesos livres, Zenalov (1976) cita que, em relação aos membros inferiores (principais músculos a serem desenvolvidos no levantamento de peso para a obtenção de bons resultados), os exercícios de assistência (como por exemplo o agachamento frontal e o agachamento) são comumente usados objetivando o aumento da força (força máxima e força rápida). Zenalov (1976) explica que os exercícios de agachamento geralmente são realizados com cargas próximas à carga máxima do arremesso ou do arranque (carga inferior ao arremesso), ou seja, mesmo que o atleta consiga agachar com 100 kg a mais, é recomendável que ele realize um maior volume de treino do que uma maior intensidade, devendo assim, diminuir a carga. Isso, explica Deniskin (1981), deve-se ao fato de que, apesar de ser um exercício de extrema importância, esses exercícios contribuem eficazmente apenas para o desenvolvimento da força absoluta, mas possuindo uma pequena eficácia em gerar força explosiva (Vorobeyev, 1977; Medvedyev, 1968; Avenesov, 1970).

Assim, , podemos concluir que, em relação ao levantamento de peso, os exercícios mais recomendados para o desenvolvimento da força rápida são os de competição (arranque e arremesso) e os pliométricos, sendo de extrema importância a correta utilização de ambos em seus devidos períodos de preparação, pois um erro metodológico ou de planejamento poderá ocasionar em uma falha na aquisição da capacidade física mais importante dessa modalidade (e de diversas outras): a força rápida.





O agachamento para atletas de levantamento de peso não necessita ser tão pesado quanto para os levantadores básicos, pois a modalidade exige uma maior força de velocidade (e não força máxima) e, ao mesmo tempo, um agachamento mais profundo (ao contrário do levantamento básico, onde o exercício é realizado até os 90º de flexão).


Ao longo dessa semana, postarei um artigo sobre a última capacidade biomotora da força: a força de resistência, em especial a de resistência hipertrófica.

Dúvidas ou sugestões, postem através de comentários ou enviem um e-mail para: rdallsantos@hotmail.com.

Obrigado!
Rodrigo Dall'Aqua

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