segunda-feira, 28 de abril de 2008

Levantamento de peso - Capacidades motoras (parte I)

O levantamento de peso tem como capacidades inerentes: coordenação, técnica, força (máxima), potência (força rápida/explosiva), sendo que também exige um bom nível de flexibilidade.
Ao falarmos sobre capacidades motoras (gerais e específicas) e cognitivas, estamos nos referindo aos aspectos fundamentais na preparação do atleta, os quais abrangem: a preparação física geral e especial; a preparação técnica, tática, psicológica e teórica (intelectual) (FORTEZA DE LA ROSA, 2006).
Dividiremos as capacidades motoras em duas partes: as capacidades motoras especiais – capacidades extremamente importantes para o bom rendimento de um levantador de peso, ou seja, as capacidades que devem ser trabalhadas de forma mais intensa; e capacidades motoras gerais – que também são importantes para o rendimento, porém não são determinantes e também não precisam ser desenvolvidas ao máximo (por exemplo, o levantador de peso não necessita ter o mesmo nível de flexibilidade de um ginasta, porém é sempre importante que ele possua uma flexibilidade ótima na região do quadril, dos ombros e dos membros inferiores).
Capacidades motoras especiais Ao falarmos de capacidades motoras especiais, estamos nos referindo às capacidades primárias exigidas no esporte, no caso o Levantamento de Peso. Segundo Verkhoshanski (2001), a experiência motora é a capacidade que determina a rapidez de realização da ação motora. O próprio Verkhoshansky (1991) cita que o mais importante componente específico na preparação de atletas de alto rendimento é a tarefa de desenvolver o potencial motor dos mesmos.Neste tópico iremos conceituar e especificar estas capacidades.
Coordenação - Para Bompa (2002), a coordenação é uma capacidade física que possibilita ao indivíduo assumir a consciência e a execução, levando-o a integração progressiva de aquisições, o que favorece a uma ação ótima dos diversos grupos musculares na seqüência de movimentos com um máximo de eficiência e economia. Relacionada com a velocidade, a força, a resistência e a flexibilidade, a coordenação capacita o atleta para ações motoras em situações previsíveis e imprevisíveis.
É importante entender o que é coordenação (capacidade coordenativa). Hollmann e Hettinger (2005) a definem como a ação sinérgica do sistema nervoso central e da musculatura esquelética dentro de uma determinada seqüência de movimentos, e a colocam-na como uma forma de solicitação motora e Zilio (2005) cita que sua manifestação nunca ocorre de maneira isolada e independente, pois ela está presente em qualquer ato motor.
Para finalizar, observamos na literatura, que as capacidades e habilidades coordenativas devem ser mais trabalhadas com as crianças. Tudo no seu devido tempo, sem pular etapas. Isso não significa que quando adultos ou ainda adolescentes não devamos mais estimular estas capacidades. Pelo contrário, devemos especificá-las, buscando desenvolver suas variações, relacionando-as com o esporte praticado (PLATONOV, 2004; BOMPA, 2002; WEINECK, 2003; BARBANTI, 2005).
Na prática, observamos que a coordenação e a técnica são trabalhadas de uma forma conjunta, ou seja, não existe exercício de levantamento de peso que trabalhe a técnica e não a coordenação, e vice-versa. Técnica - Segundo Tubino (1979), por preparo técnico, isoladamente, entende-se o treinamento dos fundamentos técnicos individuais acrescidos das estratégias ensaiadas, tudo com o sentido de realizar a prática com recursos técnicos suficientes para o alcance do êxito nos objetivos formulados, executando uma tarefa da forma mais objetiva e econômica possível, porém, Weineck (2003) afirma que o significado da técnica não é o mesmo em todas as modalidades esportivas, sendo que a complementação técnica de um treinamento tem diferentes significados de acordo com a modalidade esportiva.
Verkhoshansky (1995) cita que nos eventos de velocidade-força, a carga de volume não é tão importante quanto à habilidade (técnica). Assim, o que é mais importante é determinado pela eficácia da essência da carga de treino, através da devida combinação e continuidade dos diferentes métodos (incluindo técnica), e também da correta distribuição de altos volumes de carga ao longo do ano, e da alternância de treino e descanso ativo.
Platonov (2004) divide a aprendizagem da técnica em 3 etapas:
- Etapa do Aprendizado Inicial (criam-se imagens sobre a ação motora, nas quais se estabelece a orientação para assimilá-la, prevenindo eliminando os erros);


- Etapa do Aprendizado Aprofundado (aperfeiçoamento da técnica esportiva, suas dinâmicas e cinemáticas, assegurando sua correspondência com as particularidades dos alunos);

- Etapa da Consolidação e Posterior Aperfeiçoamento (aquisição técnica específica para uma modalidade esportiva, onde se estabiliza o hábito e aperfeiçoa-se a variabilidade oportuna em relação às individualidades do desportista).


Principalmente nas duas últimas etapas, deve-se tomar muita atenção com a aquisição da técnica, pois, de acordo com Garhammer (1993) a junção da cinemática da barra muda pouca coisa sobre um período de anos, uma vez que a técnica básica do levantamento for estabelecida. Por exemplo, a altura máxima da puxada durante a competição de arranque para levantadores de elite talvez flutue apenas 2 ou 3 cm ao longo de muitos anos, enquanto o peso levantado e a produção de potência possa aumentar em uma faixa de 10 a 20%. Por isso, para um dado atleta o principal desafio, enquanto o rendimento aumenta sobre o tempo, será na capacidade de produção de potência e não em parâmetros cinemáticos ou aspectos técnicos associados aos levantamentos.
Os métodos de ensino da técnica sugeridos por Hortz & Weineck (1983), apud Weineck (2003) são: método total (instrução direta do movimento como um todo) e método parcial (instrução de movimentos mais difíceis e complexos, treinados em partes), que é bastante utilizado no levantamento de peso (HE, 1992; CHARNIGA JR. 2003).


Charniga Jr. (2003) e He (1992) citam que “o treino de levantamento de peso é baseado na técnica”. E a base dessa afirmação vem da idéia de que existe uma possibilidade real de uma interação negativa com a barra das qualidades físicas, assim como uma transferência negativa de hábitos motores resultados de uma seleção de exercícios de treino e do treinamento de pesos.
Oleshko (2008) concorda com os autores citados anteriormente ao afirmar que um dos principais fatores para uma eficaz preparação de um atleta é o seu grau de domínio da técnica e execução dos exercícios de força.
Vorobyev apud Charniga Jr. (2003) cita que uma importante peculiaridade dos exercícios de levantamento de peso é a sua breve realização, o que torna muito difícil e até relativamente impossível de programar uma consciente correção durante o levantamento da barra, e a possibilidade de impor correções de ações motoras durante o levantamento de pesos máximos é extremamente limitada. Assim, deve ser esclarecido que será menos errôneo se o movimento for automatizado a partir de um controle consciente, e dirigido para um nível baixo de regulação para os estágios neurais mais simples, ou seja, no início da prática da modalidade. Por isso, é surreal para um levantador de peso “pensar” em seu movimento durante o arranque ou o arremesso, ao mesmo tempo em que, com sucesso, levanta a barra com seu máximo de peso possível, sendo que o tempo total ao qual ele levanta a barra, tanto no arranque quanto no arremesso, é de apenas poucos segundos.
Conclui-se que os critérios para o preparo técnico dependem do nível de treino, da qualificação, da categoria de peso e da idade do atleta a ser treinado, pois ao treinar um jovem levantador de peso, deve-se levar em conta, principalmente, o nível de domínio da técnica e de procedimentos isolados, como a utilização de exercícios de preparação especializados, além do uso dos exercícios competitivos (OLESHKO, 2008).
Para o conteúdo não ficar tão maçante, deixaremos a parte da força (força especial e força geral para o levantamento de peso) e a parte cognitiva para a próxima semana, onde também teremos uma entrevista com um vitorioso atleta gaúcho dos levantamentos básicos (modalidade do halterofilismo que será abordada futuramente).
Dúvidas ou sugestões: postem comentários ou enviem por e-mail para rdallsantos@hotmail.com.
Obrigado!
Rodrigo Dall'Aqua dos Santos

Um comentário:

Dragos disse...

Parabens Rodrigo.Muito legal o artigo.
Apesar do movimento ser breve(2sec) um bom levantador trabalha e sente a barra durante quase todo o movimento menos o periodo quando esta deslocando as pernas e nao tem contato com a terra.