domingo, 27 de abril de 2008

Levantamento de peso - Parte I

INTRODUÇÃO
Primeiramente, gostaria de agradecer a visita do leitor, e comunicar que este tema (Levantamento de Peso) será dividio em partes ao longo de diversos artigos para facilitar a compreensão dessa modalidade.

Nessa primeira parte, citarei a história e conceituarei os termos e os dois exercícios de competição (o arranque e o arremesso).

O esporte Levantamento de Peso é geralmente referido como levantamento (estilo) olímpico por ter destaque em competições nos jogos olímpicos (Garhammer e Takano, 2006). Porém esse termo “Levantamento Olímpico” é inapropriado para a maioria dos atletas, pois deveria ser reservado para os indivíduos de elite que competem no levantamento de peso nos Jogos Olímpicos.
Assim, o termo “levantadores de peso” refere-se justamente aos indivíduos que treinam e competem no chamado levantamento olímpico (Chiu e Schilling, 2005).

Como uma atividade atlética básica, e um significado natural de medir força e potência, o levantamento de peso esteve presente nas antigas culturas dentre elas, de acordo com Carvalho e Santos (2006), a cultura egípcia e a grega, sendo que, de acordo com Stone et al. (2006), o levantamento de peso pode ter sido praticado há mais de quatro mil anos. A prova destes registros pôde ser encontrada no túmulo egípcio do príncipe Baghti, datado em aproximadamente 2040 AC, que continha ilustrações de movimentos de força e levantamento de peso.
Na própria China, onde serão realizados os Jogos Olímpicos de 2008, no final da dinastia Chow (em meados de 1122.AC) a condição indispensável para que os homens fossem admitidos como soldados no exército, era sua aprovação no teste de levantamento de peso (STONE e KIRKSEY, 2003; COLLI, 2004; STONE et. al, 2006).

O levantamento de peso, que antes era apenas uma modalidade masculina nos jogos, passou a ter a participação das mulheres. Este episódio foi iniciado oficialmente em 1987 no campeonato mundial de levantamento de peso feminino, em Daytona, na Flórida. Somente treze anos mais tarde, o levantamento de peso feminino foi incluído nos jogos olímpicos de Sidney em 2000 e disputado em sete categorias (GARHAMMER e TAKANO, 2006).
As competições de levantamento de peso nos jogos olímpicos e campeonatos mundiais incluíam levantamentos com um e dois braços (1896 a 1925), até que o Comitê Olímpico Internacional (COI) decidiu limitar deixando somente, o supino, que de acordo com o Stanica (2007) o exercício, referido por Stone e Kirksey (2003, pg. 861) como “supino”, seria um equívoco de tradução, pois na verdade o exercício competitivo usado nessa época fora o estilo desenvolvimento ou “militar press” também chamado, de acordo com El-Hewie (2003), "two handed clean and press"(um arremesso com a diferença de que no segundo tempo a barra era levantada do peito/ombro até acima da cabeça em força, sem nenhum impulso adicional das pernas), o arranque e o arremesso. Estes três tipos de levantamento permaneceram até 1972, ano em que fora excluído o desenvolvimento ou “militar press” devido aos grandes problemas de saúde e arbitragem que trazia.
Para o melhor entendimento dessas modalidades, primeiramente será descrita a classificação da modalidade, onde explicaremos as duas modalidades do levantamento de peso, o arranque e o arremesso, e definiremos os termos mais importantes.

Em outros artigos, analisaremos as regras da competição, as capacidades motoras e cognitivas mais exigidas nesse esporte para então entrarmos no metabolismo predominante.

CLASSIFICAÇÃO DA MODALIDADE

Como dito anteriormente, o levantamento de peso é composto de dois levantamentos sobre a cabeça, o arranque (“snatch”) e o arremesso (“clean and jerk”) (Garhammer, 1993), sendo um esporte de força no qual o atleta tem como objetivo, executar o movimento de levantar com as duas mãos uma barra de ferro com discos de pesos afixados nas extremidades, do solo até acima da cabeça. O atleta que levantar o maior peso possível no somatório das modalidades de arranque e arremesso é o vencedor (COLLI, 2004).

A barra oficial de levantamento de peso é diferente entre os sexos: a barra masculina pesa 20 quilos e possui 2,20 metros de comprimento, enquanto a barra feminina é um pouco mais leve, possui 15 quilos, tem 2.01 metros de comprimento. A distância entre os discos de peso são de 1.31 metros, com tolerância de 0.05 milímetros a mais ou a menos (IWF, 2007).
As competições oficiais são organizadas por sexo, e categorias por idade e massa corporal. Os atletas competem em: categoria Juvenil (até 17 anos), Junior (até 20 anos) e Sênior (acima de 20 anos). Existem oito categorias de massa corporal para os homens, são elas: 56 kg; 62 kg; 69 kg; 77 kg; 85 kg; 94 kg; 105 kg e acima de 105 kg. Para as mulheres, são sete as categorias estabelecidas: 48 kg; 53 kg; 58 kg; 63 kg; 69 kg; 75 kg; e acima de 75 kg (IWF, 2007).
A seguir, analisaremos as duas modalidades do levantamento de peso: o arranque e o arremesso.
Arranque: O Arranque é o primeiro exercício competitivo, sua duração total é de aproximadamente 3 segundos e, durante a sua execução, a barra é levantada do chão até que os braços estejam estendidos sobre a cabeça em um único e contínuo movimento (Fleck e Kraemer, 2006; Garhammer e Takano, 2006; Olshansky, 2008), sendo também referido como o levantamento de apenas um movimento GARHAMMER, 1989).
Os atletas quando realizam o movimento de arranque, costumam utilizar uma longa distância entre as mãos, para diminuir a altura em que a barra deve ser elevada, e o peso da barra, usualmente, chega a ser aproximadamente 80% do peso da barra no arremesso (Charniga Jr., 2001). Outro artifício muito utilizado no levantamento de arranque é a posição de agachamento profundo, denominado “agachamento de arranque” que possui o mesmo objetivo de diminuir a altura de elevação da barra, porém exige muita flexibilidade dos ombros e articulações dos membros inferiores (ESCAMILLA; LANDER e GARHAMMER, 2003).
De acordo com Escamilla; Lander e Garhammer (2003), no início do movimento, o atleta posiciona seus pés na posição inicial de modo que a projeção da barra esteja acima do meio dos pés. O tronco do atleta está inclinado para frente em um ângulo de aproximadamente 45º, mantendo as costas eretas e o quadril na mesma altura dos joelhos, através da flexão de ambos (Roman, 1970). Bartonietz (1996) cita que os atletas mais altos flexionam mais os joelhos (aproximadamente 47º de flexão) do que os mais baixos (chegam a ter um ângulo de flexão de joelhos de apenas 80º).
Durante o movimento, conhecido como primeira puxada, a barra é levantada do chão até acima dos joelhos, através da extensão do quadril, joelhos, e a leve flexão dos tornozelos, enquanto a posição dos braços não muda e existe uma forte tensão isométrica nos músculos eretores da espinha, para manter as costas em postura ereta. Conforme Chiu e Schilling (2005), os eretores da espinha criam uma posterior divisão de forças para opor a anterior divisão das forças gravitacionais, as quais, concomitantemente com as forças de compressão geradas, aumentam a estabilidade da coluna. Os elevadores da escápula e os extensores dos ombros mantêm a barra perto do corpo. Nessa posição, apesar de o levantador ser capaz de produzir grandes forças, o movimento não pode ser realizado em alta velocidade com cargas pesadas.
Quando a barra passa pelo nível dos joelhos, é o fim da primeira puxada e a fase de preparação para a segunda puxada (Escamilla; Lander e Garhammer, 2003; Oleshko, 2008;). Nesse momento, Oleshko (2008, p. 29) cita que “(...) os esforços do atleta aumentam rapidamente e, em 0,08 a 0,12s, atingem 140 a 160% do peso levantado”.

Assim que a barra passa da altura dos joelhos, os mesmos são flexionados deslocando-se para frente, movendo-se sob a barra. O quadril dos atletas se move com a barra deslizando sobre as coxas, e as costas do atleta ficam em posição mais vertical (Escamilla; Lander e Garhammer, 2003), caracterizando a puxada completa, conhecida também como dupla flexão de joelhos (STONE e KIRKSEY, 2003).

A duração da segunda puxada é de aproximadamente 1 a 2 segundos, onde a barra é acelerada ao máximo, resultando na propulsão da barra para cima através dos movimentos de extensão de joelhos e quadril, de flexão de tornozelos e da elevação da cintura escapular. Roman (1970) também chama a fase de segunda puxada como fase de explosão, onde ele cita que a barra deve atingir uma velocidade de no mínimo 1,70 m/s ao final dessa fase e início da fase seguinte (OLESHKO, 2008).

Chiu e Schilling (2005) citam que, provavelmente, a maior e mais esquecida característica do arranque e, também do arremesso, seja a recepção da barra, tanto sobre a cabeça ou sobre os ombros. Os autores citam que nos círculos de levantamento de peso, isso é denominado como “meeting the bar” (“encontrando a barra”), ou descanso ativo durante o momento de queda (troca de uma posição alta para uma mais baixa) da barra, exigindo uma ativação dos músculos antagonistas em uma particular ação excêntrica e isométrica. Charniga Jr. (2003) cita que o levantador, nessa fase, tem que trocar de direção instantaneamente, encontrar uma nova base de apoio, amortecer o caminho descendente da barra, fazer a “receptação” (“meeting the bar”), e por fim, estabelecer e manter o equilíbrio. Tudo isso em uma fração de segundo, para após realizar a fase ascendente.
De acordo com Baumann et al. (1988) a altura máxima alcançada pela barra aumenta com o aumento da estatura do atleta, porém, com uma pequena variação, a altura à qual a barra é levantada corresponde a 60% da estatura do levantador. Porém, Charniga Jr. (2003) cita que levantar a barra até a altura correta (60% da estatura do atleta) não significa necessariamente realizar com sucesso o levantamento. Ele explica que o levantador deve ter uma habilidade de alternar a posição de levantar para a de receber a barra no agachamento.
A próxima etapa consiste no levantamento, realizado por conta da extensão da perna nas articulações coxofemoral e do joelho, com o objetivo de manter o equilíbrio geral da barra e realizar as ações preparatórias para a fixação, momento o qual o atleta tem de permanecer ereto, com os braços e pernas estendidos e mantendo o peso imóvel até o sinal do juiz para que o peso seja recolocado na plataforma (OLESHKO, 2008).

A figura abaixo mostra um atleta russo realizando a fase de agachamento profundo no arranque.


Arremesso: A modalidade de arremesso é bem parecida com a de arranque em sua primeira fase, porém é realizada com uma maior proximidade das mãos, devido ao fato de a barra ser direcionada até o nível dos ombros, apoiada na clavícula, deltóide e nas mãos, para depois ser deslocada acima da cabeça com os braços estendidos (GARHAMMER e TAKANO, 2006).

A posição inicial é semelhante à do arranque, porém a inclinação do tronco é menor (aproximadamente 55º), fazendo com que os membros superiores fiquem de 10 a 15 cm mais alto do que durante a mesma fase no arranque (ROMAN, 1970; OLESHKO, 2008).

De acordo com Stone e Kirksey (2003), o início do movimento de arremesso acontece com os músculos extensores das pernas, e os braços do atleta encontram-se totalmente estendidos, sendo que a posição das costas é ereta conforme a modalidade anterior. A barra é levantada até a linha dos joelhos deslocando o centro de pressão que era nas costas para os calcanhares.

Após isso, ocorre a fase de transição, onde, através de um movimento rápido e explosivo, a barra é levantada para cima e, ao mesmo tempo, o atleta realiza um agachamento profundo, onde ele direciona a barra ao peito e, simultaneamente, desloca os cotovelos para frente. Em seguida, o tronco desloca-se um pouco para baixo enquanto os cotovelos são elevados. Então se realiza, da forma mais rápida possível, o movimento de extensão dos joelhos e a fase de impulso, onde o atleta se move sobre a barra apoiando-a nos ombros, e com ela fica em posição ereta finalizando a chamada fase de “clean” (OLESHKO, 2008; GARHAMMER, 1989).

Na próxima fase, conhecida como “jerk”, o início do movimento é caracterizado por um leve agachamento através da contração excêntrica dos extensores das pernas e do quadril, seguida imediatamente por uma rápida extensão (momento em que o atleta empurra a barra para cima). Enfim o levantador adquire a postura totalmente ereta com os pés em paralelo, finalizando o movimento de arremesso (STONE e KIRKSEY, 2003; CHIU e SCHILLING, 2005).

Para finalizar, é importante salientar que a recepção da barra sobre a cabeça no “jerk” é semelhante à que ocorre no arranque, exceto pelas maiores cargas da barra que podem ser levantadas no arremesso (CHIU e SCHILLING, 2005).

As figuras abaixo mostram atletas realizando diferentes fases no arremesso.







Nos próximos textos, analisaremos as regras da competição, discutiremos sobre as exigências metabólicas e os componentes físicos e cognitivos necessários para a prática desse esporte.
Obrigado!
Rodrigo Dall'Aqua

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