domingo, 27 de abril de 2008

Olimpíadas de Pequim: Jogos Complexos

O segundo artigo que postarei não será com caráter científico, portando-se mais como uma coluna. Seu tema será os Jogos Olímpicos de Beijing (Pequim) 2008.
Não irei comentar sobre os atletas com chances de vitória, nem sobre as potências olímpicas que assumirão, quase que inevitavelmente, os 5 ou 10 primeiros lugares no quadro de medalhas (de acordo com Platonov, em seu último livro “Tratado Geral do Treinamento Desportivo”, a Rússia possui grandes chances de passar os norte-americanos, assumindo o primeiro lugar – e espero que assim seja!).
Irei mais adentro na história, realizando um paradoxo entre a “escravidão” dos atletas para com seus fornecedores e a “escravidão” política de duas nações dentro da China: Tibete e Hong Kong.
No primeiro caso, essa escravidão é perceptível aos olhos dos profissionais capacitados na área desportiva. Trata-se de uma relação benéfica, tanto para o atleta quanto para a marca que o representa. Porém, será que para o treinador e para toda uma equipe técnica, altamente capacitada, com doutores e profissionais de primeiro escalão, essa relação é tão importante assim? Vejamos. O atleta necessita de um material para competir. Necessita de que alguém forneça esse material, pois senão, ele teria que desembolsar muita grana para obter o equipamento adequado para a modalidade ou então, treinar sem esse equipamento (ou com um “lixo” de tanto uso). Necessita que alguém pague seu “pão de cada dia” e algo a mais. Não pode sobreviver apenas com a renda das premiações pela conquista de um campeonato (fora algumas modalidades, as premiações não são tão lucrativas assim!). Por outro lado, esses patrocinadores necessitam apenas que o atleta vença.
Atualmente observamos até uma diminuição na preocupação em relação ao atleta ser comportado fora de seu meio de trabalho. Alguns patrocinadores até se divertem quando seu patrocinado aparece em escândalos e brigas dentro da competição.
Por fim, o lado do profissional. Treinador. Preparador Físico. Etc. Que sempre sofre as críticas de repórteres e comentaristas “esportivos” que entendem muito pouco, para não dizer nada sobre preparação física, metodologias de aprendizagem, métodos de treinamento, treino técnico, treino tático, repouso e recuperação, dieta e nutrição, desempenho ótimo e desempenho máximo, etc. Esse lado, digamos, é o lado mais injustiçado da história e por isso desenvolverei uma coluna sobre ele adiante.
Atentemo-nos aos dois primeiros, principalmente ao lado do atleta, escravo, mas muitos não sabem. Talvez muito pouco não saibam, assim, alguns escondem essa sabedoria.
Quando me refiro a escravo, digo em relação ao fato de ele ter que se sujeitar a tudo para melhorar seu rendimento. Sim, falo de esteróides também. Quando citei no texto acima que “essa escravidão é perceptível aos olhos dos profissionais capacitados na área desportiva” mencionei o fato de que, nós, profissionais do desporto, temos plena certeza de que para se tornar um atleta de alto nível nos dias atuais é necessário o uso de tais substâncias. Mas não se assustem. Elas não são tão destruidoras quanto imaginamos. Mais destruidora é a mente humana. É ela que raciocina “se ele está ingerindo 50 mg de Dianabol por semana, usarei 200 mg!”. Pensamento ignorante, sem sequer uma pesquisa nas referências. E não são poucas que temos pela internet.
Mas por favor! Refiro-me a artigos científicos de pesquisadores como Charles Yesalis, Bahrke MS, Santora, etc. Caso não possua um domínio da área para lê-los, procure um profissional, alguém com capacidade para entendê-los sem possuir uma visão fechada sobre o assunto (pois alguns teimam que, de acordo com “relatos”, essas drogas são exclusivamente maléficas).
Retornando ao tema, o único problema da “escravidão atlética” é que, como dito anteriormente, os atletas que estarão nos Jogos Olímpicos de Pequim, e que entrarão para disputar a medalha de ouro, nos desportos individuais e, em alguns casos, nos coletivos, estarão certamente dopados. Ou terão usado alguma substância durante o período de treinamento para facilitar a recuperação pós-sessão de treino, auxiliando na melhora do desempenho. Analisando a história, percebemos que substâncias para suportar o cansaço e aumentar o vigor físico já eram usadas há séculos, embora não possuíssem conotação de doping (MOURA SANTOS, 2007).
Assim, é ingenuidade demais acreditar que, com toda a facilidade dos tempos modernos, da globalização, um atleta não esteja disposto a tudo para conquistar uma medalha, ou, como gostaria de colocar, que o patrocinador desse atleta não o obrigue a utilizar todos os meios possíveis para assegurar um lugar ao pódio, ostentando, antes da bandeira de seu país, a marca que o patrocina! Como diria a introdução do livro “O poderoso chefão” de Mario Puzo: “por trás de toda grande fortuna há um crime”.
Isso, acredito que seja a GLOBALIZAÇÃO, onde os esteróides utilizados pelos americanos, também estão sendo utilizados pelos brasileiros, japoneses, chineses e russos. Russos não. Esses são um caso à parte. Os criadores dos esteróides, juntamente com os alemães! Os deuses!!!
Em relação à questão política, como não sou um estudioso da área (e não possuo interesse em ser), limitar-me-ei a dizer o seguinte: assim como os esteróides estão presentes no Esporte e ninguém na mídia faz questão de citá-los, o Tibete e Hong Kong também são casos típicos de um interesse maior: o interesse monetário, financeiro. Há anos que esse povo está aclamando liberdade. Há anos que não vem conseguindo. Mais tempo do que o povo iraquiano. Por que a potência americana não os auxilia? Não possuem petróleo. São pequenos. Encrenca demais com a China. Então, que a China resolva seus problemas antes dos Jogos, de preferência. Não quero que nada atrapalhe alguns dias de festas. Nem mesmo a vida de alguns “miseráveis” (mas com sabedoria maior do que a nossa) tibetanos. É triste!





Dúvidas ou sugestões: postem comentários ou enviem por e-mail para rdallsantos@hotmail.com
Obrigado!
Rodrigo Dall'Aqua dos Santos

Um comentário:

Anônimo disse...

Desejo enaltecer o trabalho de pesquisa e fundamentalmente o interesse deste atleta e estudioso que escreve e da mesma forma agradecendo por publicar informações por um esporte que foi e é matriz de diversos outros que hoje se pratica.
Quando vemos um ator, musculoso, atletas de categorias de esportes de salão(esportes cobertos) com musculatua em grau maior de desenvolvimento com referência ao seu esporte e tantos outros exemplos, digo e afirmo isto é exercício com peso e não é musculação é Halterofilismo em sua muitas séries.
Após mais de 30 anos de prática, desejo para ti Rodrigo, sucesso neste empreitada de futuro profissional que terá responsabilidade e conhecimento. És o nosso futuro e serás também um defensor ou catequizador desta ignorância que nos cerca.
Carlos Xandão
(apenas um Halterofilista)