sexta-feira, 2 de maio de 2008

Eenvelhecimento Precoce


Começarei essa coluna comentando sobre um atleta brasileiro que, assim como todos os levantadores de peso e praticantes de outras modalidades nesse país, não recebe nem 50% das congratulações e respeito que esse mesmo país fornece aos nem tão eméritos assim jogadores de futebol. Esse atleta a quem me refiro chama-se RICKSON GRACIE.




Rickson possui uma enorme admiração e respeiro lá fora, no Japão e no "mundo" Oriental. Um mundo completamente diferente do nosso. Ainda.




Nesse "mundo", ele é visto como um Samurai, que derrota seus oponentes com a mente. Não que ele não possua um físico espetacular, muito bem treinado, mas seu poder de concentração é fora do normal. Ele possui um cartel de mais de 400 lutas, e ainda não conhece o sabor da derrota. Lutas muito contestadas. Alguns invejosos dizem que ele ganhou todas porque nunca lutou contra os melhores do MMA (Mixed Martial Arts - Vale-Tudo). Mas, na minha opinião, 400 lutas são 400 lutas.




Ele acredita que as lutas do Pride, UFC e outras organizações, são muito violentas, perdendo a magia do confronto entre os diferentes tipos de artes marciais. Opinião dele. Discordo, pois admiro o Pride e UFC. Porém, respeito a opinião de um grande vencedor e, ao mesmo tempo, tenho total certeza de que, se ele resolvesse competir nesse tipo de combate, ele seria um grande vencedor. Pois sua força está muito bem trabalhada. Talvez tivesse alguns combates duros com Mirko, Fedor e Rodrigo Minotauro. Talvez perdesse algumas lutas. Mas com certeza seria a mesma lenda que é hoje! E mesmo assim, continuaria sendo renegado pela mídia esportiva brasileira, que pouco (ou nada!) comenta sobre essa modalidade esportiva. Comenta mais sobre fórmula 1, stock car, e outras modalidades que Galvão Bueno é "especialista". Sem comentar no "créu". Nem menciono futebol, voleibol e outras modalidades com bola. Não teria nem graça.
RICKSON GRACIE é a prova que existe a possibilidade de irmos contra 99,9% da população ocidental, que acredita que após os 30 anos de idade você se torna “velho” demais, incapacitado para certas atividades, como por exemplo, jogar futebol, lutar, levantar peso.





Refiro-me a população ocidental devido que no Oriente, observamos uma cultura um tanto que diferente, onde com o passar dos anos o Homem não se torna menos capacitado, e sim, mais sábio, apto a ensinar! Infelizmente, a "ocidentalização" do oriente, as vezes faz com que esse valor seja mal compreendido.





Não podemos confundir o termo "mais experiente" com "desempenho". Experiência está relacionada única e exclusivamente com o tempo. Quanto mais tempo de prática, mais experientes nos tornamos. Já o desempenho, esse é um fator que possui incontáveis variáveis. O desempenho, chamado também de “performance” pode ser atribuído ao "momentum", ou seja, quando dois atletas de mesmo nível competem entre si, o que estiver em um melhor momento, vencerá. Porém esse "momentum", possui diversas outras variáveis como o psicológico (não aquele psicológico que os comentaristas “esportivos” tanto falam na televisão). Psicológico, como qualquer outra valência física, é treinável. Mas não através de festas e palestras de psicólogos como comumente acontece no “Mundo do futebol”. Psicológico se treina através de muita dedicação, mentalizando, meditando, e até ouvindo palavras de incentivo e de superação.





Levantadores de peso e basistas sabem muito bem o que é isso. Fisiculturistas e lutadores também, assim como atletas de diversas outras modalidades (principalmente as individuais). Porém, claro, existem atletas (ou treinadores) que desconsideram. Optam apenas pelo caminho mais fácil: as drogas – o doping! (outra variável da performance). Quem usa a melhor substância, treina melhor, possui uma melhor recuperação e conseqüentemente, um melhor rendimento na prova ou no jogo.




Repouso também auxilia (e como!) no rendimento, assim como a alimentação (fundamental). A iniciação ao esporte (aos esportes, melhor dizendo) é de extrema importância caso queiramos produzir um futuro atleta campeão olímpico. Como exemplo, podemos citar a China (sede dos Jogos Olímpicos de 2008), onde a criança aprende em torno de 6 modalidades esportivas diferentes por semestre na escola. Diferentes modalidades, que poucos possuem conhecimento ou prática aqui no Brasil, como paddel, badminton, squash, taekwondo, rugby, luta greco-romana, yoga, etc. Tudo isso os chineses aprendem sem sair da escola! Não precisam pagar aulas particulares ou serem convidados a fechar contrato com determinado clube aos 15 anos. Ao finalizar o segundo grau, eles certamente possuem uma experiência corporal enorme, tornando-os mais aptos para a especialização em uma determinada modalidade esportiva. Muito diferente do Brasil, onde aprendemos algumas modalidades com bola (futebol, futsal, voleibol, handebol e basquetebol) e, em algumas escolas aprende-se judô e outras artes-marciais. Ou seja, o que nós, brasileiros, aprendemos durante toda a nossa vida escolar, os chineses aprendem em, no máximo, um ano. Mas isso é pauta para posterior discussão.




Retornemos ao nosso tema principal: noção de “velhice”. Como citado anteriormente, Ryckson Gracie é o maior exemplo de que, mesmo após a juventude, podemos realizar todos os nossos desejos. Nunca é tarde para re-começar. Ele não precisou re-começar, porém ele, através de sua mente, trabalhada ao limite, possui condições de enfrentar lutadores com a metade de sua idade.
A ciência por muitos anos propagou a idéia de que, após os 30 anos de idade, o homem começa a produzir menos testosterona, diminuindo assim, a capacidade de produzir força e potência. Porém, os cientistas menos estudiosos (e são muitos!) levaram essa afirmação ao pé da letra! Ou seja: “passou dos 30, está piorando, caindo!” A mídia apoiou. Até hoje ouvimos vários “estudiosos” comentaristas (que na real são apenas pessoas com internet ao lado e que lêem as estatísticas como se fossem leis) afirmando com a maior autoridade que tal jogador tem que se aposentar, ou que certo lutador tem que parar de lutar porque será muito desigual ele lutar contra alguém no “auge dos vinte anos”. Será que a idade pesa tanto quanto dizem? Acho difícil, até porque a definição de anos foi o próprio homem quem inventou. Assim, será que aos 29 você está no auge, e aos 30 está no fundo do poço?


O que argumento é que a ciência não está errada. Porém, quando tratamos de indivíduos fisicamente ativos e, principalmente, atletas de elite, a história é completamente diferente. Em esportes como levantamento de peso, fisiculturismo e atletismo, onde a iniciação ainda não está tão precoce, observamos que os atletas possuem o ápice de sua carreira próximo ou após os 30 anos. Porém, naqueles esportes em que a iniciação esta sendo muito precoce, como é o caso do futebol, onde, hoje, há crianças de 12 anos que estão se tornando semi-profissionais (pois o que fazem na vida é apenas jogar futebol), esse auge é antecipado. Alguns dizem que se torna melhor do que seria caso esse ápice fosse mais próximo dos 30 anos. Mas será que essas pessoas que afirmam isso não são os empresários? Lógico, para eles, quanto mais cedo melhor. Porém para o próprio jogador, essa especialização precoce é extremamente maléfica. Futuramente as lesões aparecerão. E estão aparecendo. Vejam todos os jogadores que estão surgindo nesses últimos anos. Alguns escapam das lesões agora através de outros métodos (nada melhor que “injetar” algumas substâncias para fortalecer a musculatura!), porém, ainda não existem métodos que fortaleçam os tendões, e assim, hoje as lesões não aparecem, mas amanhã, elas tornar-se-ão mais graves.




Vejam bem, comecei falando sobre envelhecimento precoce, e agora me deparo comentando sobre especialização precoce! Assim, a conclusão mais lógica é que, quando houve uma iniciação esportiva adequada, podemos observar que os atletas, mesmo após os 30 anos, sempre estiveram em forma e em um nível ótimo de desempenho (não esquecendo que não podemos levar em consideração o desempenho esportivo para determinarmos se aquele(a) atleta está apto ou inapto para a prática do esporte, pois desempenho é muito complexo) como observamos atletas que não possuíram essa adequada iniciação esportiva, especializando-se cedo demais, e que, ao chegarem nos 30 anos, tiveram que se aposentar.





Contudo, o mais importante é que, seguindo o exemplo de Rickson Gracie, que ao ser questionado sobre sua idade, ele sempre responde a data de nascimento e diz que "está pronto!", explicando que não deseja se tornar parte do nosso sistema, um sistema em que se você possui menos de 25 anos é considerado jovem demais, e mais de 30, velho demais. Ele criou dentro de sua mente, seu mundo. E nesse mundo, sua idade é insignificante. O que é importante é sua mentalidade – mental – mente; idade – idade – idade mental. Assim, possuindo essa mentalidade jovial, ele sabe que é capaz realizar tudo que desejar. Nós também somos. Porém, a diferença da maioria de nós para uma pessoa como Ryckson, é que ele possui uma maior experiência sobre sua mente, enquanto nós ainda temos que descobrir a nossa para ficarmos “prontos”.

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Rodrigo Dall'Aqua

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